Forjados no ventre das periferias e nos movimentos negros de São Paulo, ousamos nos aquilombar no parlamento. Elaine Mineiro, Débora Dias, Julio Cesar e Alex Barcellos, unidos em projetos comuns, na militância e na vida, foram eleitas e eleitos para a Câmara Municipal de São Paulo (2021-2024) para demarcar a luta por uma São Paulo Sem Racismo, aquilombando das periferias ao centro.

Não foi fácil, mas sobrevivemos! A política institucional, ainda necessária para o avanço de políticas públicas para o nosso povo, é o retrato desigual dessa cidade que ajudamos a construir. Entre colarinhos brancos e todo tipo de insultos racistas, soubemos escolher o nosso lado e quem aquilombou com a gente.

E AQUILOMBOU com a gente… O movimento negro organizado, os cursinhos comunitários e a educação popular que souberam nos dizer que para construir uma SP sem racismo é preciso muita imaginação política para combater as iniciativas que matam e ferem nossa gente, além de apontar saídas que interferem na vida dos nossos. Por isso, investimos recursos na educação antirracista, criamos prêmios para reconhecer projetos de combate ao racismo nas escolas e em toda cidade, construímos uma frente contra tecnologias racistas e soubemos dizer que racismo ambiental, não é só a enchente que derruba os barracos e destrói dignidades, é denunciar que tem cep e cor onde o recurso não chega!

AQUILOMBOU com a gente… Os movimentos culturais das periferias, que pautaram as diversas reuniões da SubComissão de Cultura, presidida por nós, e que pela primeira vez circulou a cidade, saindo do Palácio Anchieta, sede da Câmara Municipal, para ir escutar e construir junto com os territórios, atendendo demandas dos movimentos, onde pediram, dentre outros, a descentralização de recursos (luta histórica) e a implementação do Conselho Municipal de Cultura. Além disso, fizeram propostas de projetos de lei para homenagear mestras e mestres da cultura popular e diversas leis de fomento, como para as bibliotecas comunitárias e espaços culturais de gestão comunitária. Também foram feitas denúncias, como a da má-gestão dos recursos, ausência de políticas públicas, dificuldade de acesso aos equipamentos públicos de cultura. Tudo desencadeou na publicação Cultura e participação popular. A periferia precisa estar no orçamento, e mais, a periferia pode definir os rumos do orçamento e o desenho das políticas públicas.

AQUILOMBOU com a gente… Tias Nices, Mães Izildinhas, Lias, Suelis, Penhas, Maitês, Guardiãs e uma diversidade de mulheres negras que nos educaram para dizer: Cassar Racista é coisa de preta, sim! Que nos fizeram reverenciar nossos ancestrais, por meio do reconhecimento do ofício e trabalho das pessoas trancistas, e que nos fizeram pensar propostas de proteção às mulheres e trabalhadoras dos serviços de atendimento às mulheres em situação violência doméstica dessa cidade. Que nos fizeram propor políticas de combate à lesbofobia na saúde e foi quem nos disse que dureza e ternura também é encruzilhada na arena política.

AQUILOMBOU com a gente… O povo de axé que nos ensina que liberdade religiosa não tolera racismo religioso e construíram conosco um observatório dos direitos dos povos de terreiro, e que por isso, é preciso pavimentar a política com iniciativas que mantenham em pé nossos terreiros, as tradições e o respeito. Homenagear as lideranças e os nossos griôs foi respiro, festa e resistência para continuar o que nos foi confiado.

Aquilombou com a gente… Os movimentos de economia solidária na construção do Marco Regulatório Paul Singer, os combativos artistas de arte e cultura de rua fortalecemos as iniciativas baseadas em gastronomia social e segurança alimentar, Movimentos com População em Situação de Rua, Movimentos dos Ambulantes, Movimento dos catadores, os movimentos de infâncias e juventudes, trabalhadoras da assistência social, da saúde, da cultura, da educação e das nossas organizações que nos sopraram que era preciso seguir sem nos esquecer de onde viemos…

Seguimos o princípio da rua como diz Sérgio Vaz “ Enquanto eles Capitalizam a Realidade, eu Socializo meus Sonhos “

Aquilombamos na luta diária contra o Genocídio da população preta, pobre e Periférica, junto com os movimentos de familiares de vítimas do estado, de direitos humanos, movimentos negros e Periféricos, de imigrantes, por uma nova política de drogas e segurança pública, por políticas específicas para as populações indígenas.

AQUILOMBAMOS o Parlamento e queremos continuar ocupando as cadeiras da Câmara de São Paulo. Se em 2020 um dos nossos motes de campanha era “Voto Antirracista é Voto no Movimento Negro”, em 2024 reafirmamos essa convocação e a importância da manutenção de mandatos que tenham um compromisso político indiscutível com as lutas do nosso povo. Muito mais do que representatividade, acreditamos na importância de ter no parlamento paulista um mandato que seja casa para aqueles que constroem no dia a dia das lutas uma outra possibilidade de existência para o nosso povo. Vamos juntos?