O Quilombo Periférico exalta as Escolas de Samba de São Paulo

 

Tudo é amor, tudo é alegria. Poder falar das Escolas de Samba de São Paulo é recordar um passado de glórias nostálgicas que os anos não trazem mais. São tantas curiosidades, tantos personagens que essas linhas não conseguem expressar tamanha riqueza. Das batalhas de confetes aos grandes desfiles no Largo São Bento, nas Avenidas São João e Tiradentes, no Sambódromo do Anhembi, passando pelos cordões e blocos carnavalescos, ancestrais das escolas de samba em São Paulo.

É na cadência do jongo, que traz a marcação acentuada e a originalidade rítmica das escolas de samba paulistas que faremos uma viagem a essa maravilhosa lembrança. Aqui, passaremos  pelos principais sambas-enredos e desfiles que contagiaram e até hoje contagiam a galera pelo mundo afora. São as Escolas de Samba que cada vez mais se inovam, sem perder a ancestralidade e união, para que todo ano o espetáculo seja mantido preservando a tradição preta predominante na festa do povo.

Segundo relatos históricos sobre o carnaval em São Paulo,  data-se de 1885 o primeiro desfile realizado pela Prefeitura do município. Na época, não existiam as Escolas de Samba. O que predominava eram os cordões carnavalescos, que ditavam o ritmo musical na operária metrópole.  O desfile dos “cordões” eram iniciados pelo Baliza, um personagem responsável pela execução do malabarismo com bastões, uma espécie de “comissão de frente” do carnaval atual.  Ele era o defensor do estandarte do cordão, símbolo maior do grupo. A batucada era a característica principal e os ritmos afros predominavam, acompanhados de instrumentos de sopro que ditavam a harmonia juntamente com os choros de violões, cavaquinhos e bandolins . Alguns cordões destacaram-se nesta época: Geraldinos, Mocidade do Lavapés, Ruggerone e Campos Elyseos,  eram os mais animados dos primórdios do carnaval, aclamados pelo público.

Em 1914, o Cordão Barra Funda do Mestre “Dionizio Barbosa” aparece e traz  mais vida ao povo do Largo da Banana (atual Memorial da América Latina). O mestre aprendeu muito no Rio de Janeiro e trouxe algumas inovações para a terra da garoa, mas sem perder a originalidade paulistana. O cordão Barra Funda é o Ancestral da Escola de Samba Camisa e Verde Branco uma das mais tradicionais do carnaval paulista.

 “Minha gente saia fora, pra janela venha ver, o Grupo da Barra Funda, tá querendo aparecer…”

 

Na década de 30, a Frente Negra Brasileira promove um concurso que dá início a uma nova era do carnaval paulista, O Troféu  Arthur Friendenreich de 1933 premia o melhor desfile do ano. Como ainda não existia a denominação “Escola de Samba” o concurso contou com a participação de cordões e blocos carnavalescos. Cordão da Barra Funda, Bloco do Boi, Cordão das Bahianas e Bloco da Mocidade foram os participantes do concurso. Em 1934 o cordão Vae-vae do Mestre Henricão (primeiro rei Momo do Carnaval paulista) e Fredericão apresentam para o mundo o cordão carnavalesco ancestral da Escola de Samba Vai-vai, a “Saracura” da Bela Vista, apelido dado por conta do Rio Saracura que passava pelo bairro.  O cordão Vai Vai nasceu em em 01-01-1930, mas, segundo Henricão, foi em 1927 na rua Rocha número 12, na casa do  Seu Loro, também fundador do cordão, que os primeiros passos foram dados. Neste ano de 1934,  o cordão foi o vencedor, inaugurando uma era de ouro na avenida. “Saiam a janela,  venham espiar,  o Vai Vai passar. Gente de valor, turma do amor, rei do carnaval… O Vae-vae na rua faz tremer a terra. Quem está ouvindo e não vê, chega a pensar que é guerra…”

 

Na década de 40 o vento soprava forte no mês de fevereiro e na zona leste de São Paulo, no antigo Largo da Penha (Igreja da Penha) surgem movimentos e algumas escolas de samba com a predominância negra das periferias de São Paulo. No Largo do Peixe, nas bandas da Vila Matilde surge em 1949 a Nenê de Vila Matilde, uma das mais tradicionais Escolas de Samba da história e maior campeã do carnaval paulista. Fundada por “Seu Nenê”, que foi homenageado pelo cartorário na hora de se dar o nome para recém nascida escola de samba. Tem a Águia Guerreira como símbolo maior e teve como inspiração a Co-irmã  carioca Portela, tendo o azul e branco como as cores predominantes no pavilhão. No seu primeiro título,  de seus 11 na história,  em 1956 a Nenê trouxe o samba enredo Casa Grande e Senzala para avenida, inaugurando a era do samba temático. “É banzo que nego tem,  É banzo que nego tem,  É banzo que nego tem,  É banzo que nego tem… Aruanda chegou… O mar separou… Senhor, meu senhor… Negro tudo deixou…”

 

Na década de 50, o carnaval de São Paulo era minúsculo se comparado com o mega carnaval carioca, rico em detalhes e investimento. A escola  de samba que mais se destacava era a Lavapés. A Sociedade Recreativa Beneficente e Esportiva do Lavapés Pirata Negro é a mais antiga escola ainda em atividade. Fundada em 9 de fevereiro de 1937 por Madrinha Eunice, Chico Pinga e Zé da caixa,  a  Matriarca ficou à frente da escola até 1995 a consagrando no hall das escolas de samba mais respeitadas de São Paulo. A escola tem como cores oficiais do pavilhão o vermelho e o branco  e é considerada a avó das escolas fazendo morada na baixada do Glicério, centro de São Paulo. “Parece que estou vendo uma turma, que vem descendo lá do morro, chorando uma desilusão. Lamento, vem gemendo uma cuíca, veja a turma como fica, com pandeiro e violão ai ai ai ai ai ai ai esquindô… Vão depressa na farmácia, vão me trazer um Doutor. No Lavapés  nós tem um poço de água fria, quem beber daquela água canta samba noite e dia…”

 

Na mesma década surge a “ Filial do samba”  no Parque do Peruche, zona norte de São Paulo. A “Unidos do Peruche” surge após sambistas recém saídos da Lavapés, Garotos do Itaim, Rosas Negras, entenderem que um novo conceito de escola de samba precisava ser introduzido no carnaval paulista. Seu Carlão do Peruche, o cidadão Samba Paulista e Cachimbo foram os criadores da escola que carrega as cores da bandeira do Brasil, verde e amarelo em seu pavilhão. Em sua história consta o tri campeonato de 65, 66 e 67. “Meu São Paulo Querido, hoje eu quero saudar seus bosques, floridos de beleza sem par, minha voz entoa essa canção, terra da garoa, cidade revelação…”

 

Já em 1953, Inocêncio Tobias, o “Mulata” criou um movimento carnavalesco na Barra Funda chamado Cordão Mocidade Camisa Verde e Branco. Que na década de 70 se consolidou como a Escola de Samba Camisa Verde e Branco. Com o trevo de quatro folhas como símbolo, verde e branco são as cores que a escola leva no coração. Foi Tetra-campeã seguida do carnaval paulista em 74, 75, 76 e 77 quando embalou um dos sambas mais lindos da história do carnaval “Narainã”. “Era de manhã, Narainã ali chegou, No reino encantado, Ó sinfonia… Patativa que cantou…”

 

Entre histórias que remontam sua origem no time de futebol Cai-cai do negro bairro do Bixiga e do cordão Vai Vai, nasce em 1972 como escola de samba o Grêmio Recreativo Escola de Samba Vai Vai, apesar de sua bandeira levar a data de fundação 01-01-1930, data da fundação do cordão. A escola leva uma coroa por cima de grãos de café, o preto e branco são as cores do pavilhão.  Após a saída do Mestre Pé Rachado, presidente na época do cordão, assumiu a então “escola do povo” o mestre Chiclé. Pé Rachado mais tarde fundaria outra escola na zona sul, a Barroca zona sul. Como agremiação, a Vai Vai possui 15 títulos do carnaval paulistano. Em 1988 trouxe Jorge Amado para a avenida com o samba enredo : Amado Jorge, a história de uma Raça Brasileira . “Olha a folha da mangueira, Aê Bahia… Quando venta cai no chão… Aê Bahia…”

Por conta do grande trabalho que essas grandes e tradicionais escolas de samba fizeram e fazem até hoje, o carnaval  paulista prevalecer como uma das principais manifestações culturais do mundo. Essa é a nossa homenagem a esse dia tão especial. Que a pandemia passe rápido para que possamos dar continuidade ao nosso carnaval com muito amor e axé. Obrigado!

 

Grupo Especial – Liga SP – Sambódromo do Anhembi

Águia de Ouro

Mancha Verde

Mocidade Alegre

Acadêmicos do Tatuapé

Unidos de Vila Maria

Dragões da Real

Rosas de Ouro

Tom Maior

Império de Casa Verde

Barroca Zona Sul

Gaviões da Fiel

Colorado do Brás

Vai-Vai

Acadêmicos do Tucuruvi

 

Grupo de Acesso 1 – Liga SP – Sambódromo do Anhembi (Liga SP)

X-9 Paulistana

Pérola Negra

Estrela do Terceiro Milênio

Mocidade Unida da Mooca

Camisa Verde e Branco

Leandro de Itaquera

Independente Tricolor

Morro da Casa Verde

 

Grupo de Acesso 2 – Liga SP – Sambódromo do Anhembi (Liga SP)

Nenê de Vila Matilde

Camisa 12

Dom Bosco

Torcida Jovem do Santos

Uirapuru da Mooca

Unidos do Peruche

Primeira da Cidade Líder

Imperador do Ipiranga

Amizade da Zona Leste

Unidos de Santa Bárbara

Tradição Albertinense

Brinco da Marquesa

 

Grupo Especial de Bairros – UESP (União da Escolas de São Paulo) – Butantã

Flor da Vila Dalila

Unidos de Guaianases

Combinados de Sapopemba

Imperatriz da Sul

Unidos do Vale Encantado

Unidos de São Miguel

União Imperial

União Independente da Zona Sul

Boêmios da Vila

Acadêmicos de São Jorge

Imperatriz da Paulicéia

TUP

 

Grupo de acesso de Bairros 1 – UESP – Vila Esperança

Império Lapeano

Mocidade Robruense

União de Vila Albertina

Unidos de São Lucas

Prova de Fogo

Raízes do Samba

Em Cima da Hora Paulistana

Os Bambas

Príncipe Negro

Flor de Lis da Zona Sul

Lavapés

Isso Memo

 

Grupo de acesso de Bairros 2 – UESP – Vila Esperança

Só Vou Se Você For

Dragões de Vila Alpina

Cacique do Parque

Explosão da Zona Norte

Filhos do Zaire

Acadêmicos do Ipiranga

Passo de Ouro

Estação Invernada

Cabeções de Vila Prudente

Iracema Meu Grande Amor

Primeira da Aclimação

 

Especial – escola que não desfila em nenhum grupo

Dissidentes da Barroca zona sul criaram o GRES Quilombo, inspirados no Quilombo do Rio de Janeiro, mantém a essência do carnaval se livrando dos padrões comerciais impostos pela mídia.

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