O Pacaembu e o aniversário sem festa
O Complexo Esportivo do Pacaembu, em tupi-guarani “terras alagadas”, completa 81 anos nesta terça, 27 de abril, mas os cidadãos paulistanos não tem muitos motivos para comemorar tal feito. Conhecido como a “saudosa maloca” por torcedores, alusão ao famoso samba de Adoniran Barbosa, o complexo já abrigou vários eventos importantes não só no futebol. Ao longo de seus 81 anos, o Pacaembu viveu momentos glamourosos, foi palco dos jogos da Copa de 50 e dos jogos Pan-Americanos de 1963, além de receber astros do mundo inteiro em mega shows. Mesmo depois da inauguração de outras arenas de futebol o Pacaembu continuou recebendo os times paulistanos como Palmeiras e Corinthians, além de sediar a Taça das Favelas e outros jogos de projeção local.
Porém, desde 2017 a Prefeitura de São Paulo, na gestão de João Dória e Bruno Covas, do PSDB, conseguiu emplacar a concessão do complexo para a concessionária “Allegra Pacaembu”, empresa sem experiência em administração de Complexos Esportivos e Estádios. A proposta central da concessão é a modernização do espaço, que culmina na derrubada do Tobogã para a construção de um edifício multiuso, além da escavação de mais de 20m abaixo do nível da terra para abrigar um centro de convenções com capacidade para 7 mil pessoas. A empresa pretende lucrar com a exploração da área, mas apenas 10% do rendimento previsto provirá da utilização do Estádio para jogos de futebol. A Praça Charles Muller e o Museu do Futebol ficaram de fora da negociação. Inicialmente, vetava-se à concessionária a comercialização de “naming rights”, ou seja, a alteração do nome do Complexo Esportivo e associação à qualquer empresa que se dispuse a pagar pela publicidade. Entretanto, a prefeitura modificou essa cláusula em contrato, e a “Allegra Pacaembu” pode acrescentar nomes de empresas ao apelido “Pacaembu”, além de comercializar individualmente a nomeação de cada unidade do complexo, como a piscina e o ginásio poliesportivo. A duração prevista para a concessão é de 35 anos.
Frequentadores antigos do complexo e moradores do entorno fizeram inúmeras discussões e até audiências públicas sobre a concessão. Um dos questionamentos foi o possível apagamento da história do bairro e do complexo que com a “parceria”, correria o risco total de desaparecimento ou transformação. Infelizmente, as discussões foram em vão, pois a Câmara Municipal não se mostrou contrária à concessão. Ainda não se sabe se os antigos usuários poderão continuar utilizando as dependências do complexo, pois neste quesito também há diferença entre o edital e o contrato assinado com a concessionária. Após reclamações e mobilização dos usuários a Prefeitura modificou o edital, prevendo cinco horas por dia de atividades gratuitas em cada unidade do complexo. Entretanto, o contrato prevê apenas cinco horas por semana, sendo que destas quatro seriam utilizadas pela SEME (Secretaria Municipal de Esportes e Lazer). Além disso, os usuários não podem usar as dependências do complexo em dias de jogos e eventos particulares, dias estes que serão determinados pela concessionária. Se a concessionária pretende levar diariamente 7 mil pessoas ao complexo e transformar o Pacaembu no maior espaço de eventos de São Paulo, não parece que vai sobrar espaço para a população, não é?
Foi a partir dessas questões que Ativistas do Esporte que defendem que é dever do Estado promover soluções para problemas da pasta, passaram a discutir como a participação popular pode determinar outros caminhos para decisões como essa. Tendo o processo de concessão do Pacaembu como ponto de partida para os problemas com outros aparelhos esportivos na cidade, o Observatório em Movimento pelo esporte pretende retomar a discussão com o tema: “Pacaembu – reintegração de posse”. A iniciativa pretende reunir a população para se movimentar e lutar contra o sucateamento e degradação de Complexos, Centros Esportivos e Centros Desportivos Comunitários nas periferias da cidade. Além de refletir sobre as parcerias público-privadas, onde o beneficiado é apenas o privado.
Com a presença de ativistas, frequentadores, moradores e estudiosos do esporte, o evento virtual ocorrerá na próxima terça, dia 27/04, às 17h30 pela página do facebook do Observatório em Movimento pelo Esporte e marcará o lançamento do movimento. Participe, discuta e vamos à luta!